domingo, 27 de março de 2016

CURA

eu era pequena, menos de 1 metro e menos de 7 anos. cabelo liso e curto. conversava com as plantas. vivia na rua de terra, brincando com os moleques. pernas e braços machucados dos tombos da bicicleta emprestada. e um dia eu amassei as míni flores da planta rasteira e daninha que brotava na calçada e coloquei o caldo na impinge do joelho. e sei que proferi algumas palavras, e aquilo curou. e me lembro que minha avó curou as outras coceiras apenas com amor e gestos delicados de vai e vem sobre as feridas usando uma folhinha de oliveira do quintal embebida em azeite. e hoje eu gostaria de resgatar essa inocência para curar todos os homens que querem tudo apenas por não terem nada a dar além do medo. e aproveitar e proferir uma meia dúzia de palavrões mágicos para exorcizar toda essa sujeira. 

virginia finzetto

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