quarta-feira, 21 de abril de 2021

GENTE

é uma banda de gente que canta
é um bando de gente que escreve
é uma bunda de gente que dança
é um bonde de gente que aplaude

virginia finzetto

AUSCULTE-SE

adoeço por excesso de opiniões. alterno inocular o veneno e o antídoto nesse universo de farta distribuição gratuita de palavras profanas. sofro de uma labirintite crônica por não poder descansar na certeza de nenhum dos lados, se não sou eu a me auscultar.

virginia finzetto

TREMORES

estou pra lhe dizer que este tremor pode não ser normal para você, mas pra mim faz parte de um tempo que vem lá dos ancestrais, quando se escondiam nas cavernas com medo dos predadores, sem noção de cada amanhecer. estou pra lhe dizer que foram não sei quantas civilizações até que eu pudesse aparecer sobre a superfície da terra, e ainda compartilhar um sentimento tal e qual aquele menino de olhos mais arregalados armazenava entre os pulmões sem que ninguém pudesse lhe dar uma explicação sobre isso. estou pra lhe dizer que nenhuma explicação hoje também não elimina o tremor que sinto como castigo de um tempo infinito.

virginia finzetto

terça-feira, 20 de abril de 2021

domingo, 18 de abril de 2021

PRONOMINAL

era pessoa de palavra
não da poesia
de prosa crônica
da fantasia
era pessoa de rima
das farpas e da ironia
de si, cômica
ria

virginia finzetto 

domingo, 4 de abril de 2021

LIBIDO

namora...
exala tesão demoníaco
e aí noiva...
cheira a channel número 5
depois casa...
transpira cândida e amoníaco

virginia finzetto


DIÁRIO DE UMA PROTAGONISTA MILENAR

foi assim: deus estava em seu estúdio brincando com suas canetinhas coloridas desenhando um planeta lindo, ao qual chamou de paraíso terrestre. nisso, o ambiente foi invadido pelos arcanjos, que resolveram pedir licença pra dar uns pitacos aqui e ali. deus, em sua grandiosa bondade, como é e sempre será muito democrático na escuta, ouviu a todos com paciência e depois fez o que bem entendeu. desenhou todos os personagens que quis, em sua máxima perfeição. eram páginas e páginas que mostravam todo o seu esplendor criativo e onde reinava o supremo amor e a graça infinita. aí vieram os anjinhos batendo suas asinhas luminosas para que o mestre pudesse trabalhar no escuro. um deles, lúcifer, das asas de purpurina, muito desastrado, acabou derramando o jarro de água benta sobre o gibi divino. deus, ainda em sua enorme paciência, mas sem abrir mão do pulso rigoroso, o expulsou de seu reino celeste, condenando-o a viver como antagonista no paraíso destruído pelo líquido entornado. depois disso, o criador foi tirar uma soneca para descansar [já era o sétimo dia!] e largou sua criação ao deus dará.

virginia finzetto 

RESSURREIÇÃO

pele flácida
às margens deste corpo
é versátil capa
do veículo que me conduz
o nariz cresce
a bunda cai
ó carne idolatrada
pela mídia que te ilude
não sobrará
pátria sobre pátria
da terra que é solo
ao qual retornarei

virginia finzetto