Na década de 1990, criei uma peça publicitária que deveria veicular nas publicações infantis que eu editava. Era uma ideia curta ilustrada em três cenas de HQ. O personagem tinha que escolher entre os sabores morango ou chocolate (e eu, como boa libriana, imaginei ele em dúvida, jogando uma moeda pra cima, tirando assim sua responsabilidade sobre a escolha). Cara ou coroa? Aí a moeda caia em pé. E o que ele escolhe? Cena final: "Escolho os dois!" FIM (porque, lógico, a outra situação seria ele não escolher nenhum, e aí o dono do produto me matava). Essa lembrança me despertou o entendimento do significado da gula, que eu não havia pensado: gula não é querer comer muito e tudo, gula é querer tudo e ao mesmo tempo. E é bem provável que quem quer tudo ao mesmo tempo não queira nada, apenas uma congestão, do estômago ou da alma.
virginia finzetto