Embriagada de sono, Bel atende o celular.
− Oi, é a Mari.
− Oi...
− Você precisa tirar o tarô pra mim. Estou indo aí A-GO-RA!
Bel nem teve tempo para recusar, a amiga desligou. Pensou em voltar a dormir, mas não demorou muito toca o interfone.
− Estou subindo!
Ainda sonolenta, vestiu um casacão por cima do pijama e foi abrir a porta do apartamento.
− Entre. Quer um café, um chá...?
− Bel, eu não quero café, eu não quero chá, eu quero é saber o que eu faço A-GO-RA.
− O que tá rolando? Eu tirei sua sorte ontem à noite, não completou nem um dia...
− Que sorte? Eu tenho é um tremendo azar, isso sim! Por favor, pegue as cartas. Preciso de uma resposta urgente.
Lá foram as duas para a saleta de consulta.
Bocejando, Bel pegou o maço do tarô e entregou para a amiga.
− Embaralhe e corte ao meio.
Enquanto embaralhava, Mari foi contando:
− Ontem, depois que eu saí daqui, fui à casa da minha irmã. Na volta, lembrei que eu precisava comprar pão. Adivinhe quem encontrei lá na padaria?
− Quem?
− O Cacá!
− E...?
− Descobri que ele é músico! Veio todo sorridente na minha direção e me entregou um convite para o show dele no sábado, lá no Boteco do Sol. Depois, sem me dar a mínima
bola, virou as costas e foi embora. Meu coração quase saiu pela boca, mas eu fiquei paralisada. Depois me arrependi de não ter ido atrás dele, puxar papo, me apresentar. Preciso saber o que eu devo fazer A-GO-RA.
Nesse instante, de suas mãos, caíram duas cartas sobre a mesa.
− Pare! – disse Bel − Não precisamos mais das cartas. Acho que eu sei a resposta, Mari.
Bel tirou um papel que estava embaixo da caixinha do tarô e entregou a ela:
− Por acaso o convite que você recebeu é igual a este?
− Sim... Como você o conseguiu?
− Mari... ele é gay!
− Como assim, Bel? Você leu ontem nestas cartas que ia rolar um lance entre a gente!
− Disse!, mas eu não sabia o que ia acontecer depois que você saiu daqui. Lembra que não fui com você à casa da Lina porque eu ainda tinha um atendimento?
− Sim...
−Então, era ele. Acho que por pouco vocês não se encontraram lá embaixo. Veio aqui querendo saber se o amor dele pelo Pablo era correspondido.
− Bel, e você ia esconder isso de mim?
− Claro que não! Eu nem sabia que o tal Caetano que marcou a consulta pelo celular e o “seu” Cacá eram a mesma pessoa, não fosse por este convite dedo-duro! – respondeu balançando a filipeta em sua mão.
Mari se levantou ameaçando querer ir às lágrimas.
− Sinto muito, amiga. – disse Bel, enquanto a abraçava.
− Que frustração... desculpe ter tirado você da cama tão cedo.
− Venha! O que você deve fazer, A-GO-RA, é me acompanhar em um delicioso café bem forte. Nada acontece por acaso.
− Bel, você é a melhor leitora de tarô que eu conheço!
As duas se olharam e explodiram em uma enorme gargalhada.
virginia finzetto