quarta-feira, 2 de novembro de 2016

TAPAS LITERAIS

das sete artes e das letras
com licença, poética é gastronomia!
tão atenta às minúcias da linguagem
a produzir delícias em antologia
gêneros e aromas exclusivos
em vasto repertório de versificação
versos de minuto a poemas da hora
criados em oficinas de alquimia
há menus fartos e variados
produzidos pelo poeta mestre-cuca
ladeados de boa prosa, sátiras picantes
trocadilhos salteados, salpicados de métrica
a exprimir o que há dentro de nós
como espremer a essência da noz
estrofes de mignon, rimas à pururuca
estrambótico com pitada romântica
papo de anjo, gulodice
os cabelos de Berenice
em sopa ou ensopado
ao sugo, al dente, marinado
da pâtisserie à marmelada
tortas redondilhas, rondó de goiabada
quadra, dístico, terceto
em salada, in brodo, ao pesto
hashis em haicais, barquetes de elegias
ode em neve, espetinhos épicos
soneto de legumes, éclogas com lichias
em declamados pratos líricos
rocambole de frases, epopeia de sabores
que brotam da imaginação
tudo no capricho da linguagem...
iguarias autorais assinadas pelo chefe!



virginia finzetto

domingo, 30 de outubro de 2016

GRAVIDADE


o universo é um parque de diversão

repleto de bacias de algodão doce

formando nuvens e galáxias

enroladas em palitos invisíveis

servidas a buracos negros

enquanto nós somos

só ideias

cromossomos

memórias grudadas 


no pó [de açúcar] estelar

fazendo as delícias

desse festival


[g]astronômico


virginia finzetto

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

JOGO

eu perdoo
porque jogamos
de igual para igual
em campo minado de joio
como opostos elos
do mesmo flagelo
a disputar tortas verdades
de frágeis egos
mas é a plateia a cega que
enquanto esconde suas vergonhas
prefere um a outro


virginia finzetto

in Desaforismos, lançamento em 2017

terça-feira, 18 de outubro de 2016

terça-feira, 11 de outubro de 2016

TATO

Sim, é verdade, eu quero te impressionar. E quero fazer isso com precisão. Quero deixar todas minhas digitais espalmadas na tua pele. Mas não penses em violência, apenas na firmeza que é ter tua bunda grudada por um tempo exato em minhãs mãos...
virginia finzetto

domingo, 9 de outubro de 2016

ANAMNESE

não gosto do morno
mas também não suporto o frio
sequer o muito quente
não passo roupa
e deixo a louça secar ao vento
que também balança a roupa no varal
e tudo fica com cheiro do sol
o queimado do leite derramado
sobre a grelha do fogão
acaricia meu olfato
mas limpar tudo, eu aprecio não
gosto do azedo, do salgado e pouco do amargo
mas doce, ah, o doce... do doce eu gosto muito
como gosto do V
mas amar mesmo eu amo o M
como amei o N, o D, o R, o C...
não sei as voltas que os mundos darão
e quantas vezes na roda dos signos
comi de cada um com amor e tesão
mas sei que giro e não faço contas
e mesmo assim você diz me conhecer?


virginia finzetto

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

LITERAL

Veja bem, marido, não é mais uma DR, esta é literária e literal. Nossa relação era um romance. Não fosse aquele seu enredo erótico, aventura que acabou em policial, eu poderia até relevar como sendo mais uma fantasia minha, outra obra de ficção. Mas logo vi que não era ensaio, pelo tempo que durou a novela. E foi seu papel de canastrão protagonista que jogou a coadjuvante aqui definitivamente de escanteio, e sem prêmio de consolação. Aguentei tanto chifre que minha vida virou uma fábula. De lá pra cá, tudo é teatro, e você pra mim é peça que não se encaixa mais em nenhum ato. Esta dor é crônica, e por mais que eu imagine falas, eu não conto, pois ao final de tanta prosa sobrou nenhuma poesia. Um terror. Você acabou com a nossa história e meu humor... Auto lá, sem mais suspense, chega de farsa! Vamupará com este faz gênero, com esta comédia e ir direto ao desfecho do que foi nossa tragédia.


virginia finzetto