sexta-feira, 8 de novembro de 2024

NETUNO

Minha vida tem sido uma peça de teatro, propositadamente mal ensaiada. O diretor sempre foi confuso na escolha do gênero da peça e dos personagens que contracenaram comigo. Então, muitas vezes, eu ri quando deveria chorar e vice-versa, e a plateia, confusa, nunca soube se amava ou odiava minha representação. Por vezes me sujeitei à aprovação da crítica, esperando alta pontuação e recebi um zero. Quando dei uma banana pra tudo, descobri que isso não passou de uma performance de ocasião, sem muito compromisso das partes, salvo os que verdadeiramente entendem de teatro e do que se passa nos bastidores. Com estes, enfim, consigo me relacionar com sinceridade. Faria diferente? Tudo, não. Mas não tudo, só o que se chama de arrependimento, o que prefiro nomear de engano. O grande véu de ilusão de Netuno.

virginia finzetto


sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O CENTRO DO EU

umbigo, que aflição, 
palavra que lembra egoísmo, 
mas também separação

virginia finzetto

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

CRIME AMBIENTAL

presa sob uma cortina de fumaça, 
uma meia lua vermelha de vergonha 
alheia...

virginia finzetto

domingo, 8 de setembro de 2024

CORDILHEIRA DOS ANDES

A Cordilheira dos Andes é uma prova de que existe um escultor divino, que, ao esculpir o continente, teve consciência ecológica de não jogar limalhas e lascas no oceano, depositando tudo em uma das bordas. 😉

virginia finzetto

DIÁLOGOS

sempre me convido pra sentar-se 
e ouvir o que tenho a dizer
 
e, a cada instante, 
me surpreendo com as coisas 
que eu mesma digo


virginia finzetto

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

PORTO DISTANTE

o planeta já teve várias oportunidades para rachar, porém desdenha os nomes dados aos hemisférios, aos continentes, aos mares, aos fusos. ele segue uno em sua majestade, a despeito de qualquer divisão. eu me esforço em permanecer em equilíbrio, no entanto, nestes tempos, sinto cólicas imensas do corpo à alma. quisera eu poder voltar ao porto distante. só o que me resta neste momento é navegar no caleidoscópio, sem me fixar em nenhuma imagem efêmera.

virginia finzetto (mais mexida que ovo de café da manhã)