sábado, 19 de dezembro de 2015
domingo, 13 de dezembro de 2015
domingo, 22 de novembro de 2015
RIVI JÁ ERA!
E ontem, pós-lançamento do
livro, eu e uma amiga fomos caminhando pela Paulista e resolvemos parar em
algum lugar para continuar o papo. Um pouco mais pra frente estava o Riviera.
Bons anos haviam se passado da época da facul, em que eu frequentava aquele que
foi um grande polo etílico revolucionário. E como aqui não se faz revolução
nenhuma, o lugar passou foi por uma reforma mesmo (eu que ainda não tinha ido
para me decepcionar). Sim, choca. Nada a ver. Aquele pé direito
alto maravilhoso, a coluna central, a parede de tijolos de vidro e a escadaria
continuam, mas perdeu o calor aconchegante de suas simpáticas mesinhas, dos
bartenders e chapeiros no balcão lateral, a urgência de uma blitz da vigilância
sanitária nos banheiros, o rosto familiar dos garçons (não mais sóbrios que
nós). Enfim... meu, que droga. Perdeu o clima. Tá, quem não conheceu o mesmo
lugar que funcionava na década de 1970 não pode avaliar meu disappointment.
Bom, já que tô aqui, então tá. De cara fomos avisadas que só o bar estava
funcionando, o andar superior (onde fica o atual restaurante, e onde ficaram
muitas das minhas lágrimas e gargalhadas) só abriria mais tarde. Tudo bem,
pensei, sem me dar conta que no térreo ia encontrar a frieza daquele
balcão-ameba rodeado de banquetas. Ai ai ai.. nem quis subir para conferir o
resto. Nos sentamos e o solícito gato-bartender nos apresenta o cardápio.
Óbvio, fui direto no “sanduíches” e pedi de boca cheia: - Vou querer um Royal!
Crente que alguma coisa deveria ter resistido pela originalidade. De súbito, o
simpático moço me traz pra realidade de que nada persiste com o passar do
tempo: - Ah, sabia que a "senhora" ia fazer esse pedido, dando um
largo sorriso. E logo começou com a história de “o gato subiu no telhado”: -
Olha, ele tá um pouquiiiinho diferente, mas a “senhora” vai gostar! (Penso,
caramba por que essa gente jovem cibernética insiste em formas de tratamento do
milênio passado?). Eu: - Ahã... tá, vai. Pode ser. Bom, resumindo: - A senhora
gostou, é parecido com o que costumava pedir? Eu, sendo gentilmente honesta: -
Sinceramente? Em nada... Aliás, não só não é parecido como é copiado de outro
lanche famoso do Ponto Chic. Então, a única coisa que permaneceu foi o nome:
Royal. E assim mesmo, por que vocês não atualizam para... pour pour
pour...Royal Chic?! Mas adorei o sanduíche (tava gostoso mesmo.) – arrematei
com um sorriso simpático. Ele sorriu também e saiu de fino.
Tudo bem, eu não sou mais a mesma e ainda me chamo
Virginia, então dou um desconto. Mas aquela porta da entrada aberta
escancaradamente a cada um que entra, fazendo uma corrente de ar para deixar
tudo ainda mais polar, eu não vou perdoar não, nem o preço (caro, muito).
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
ALEGORIA GRAMATICAL
Naquele dia, as palavras adquiriram outra expressão. Cansadas de seu
significado, de ouvirem seu santo nome em vão, faltando partes, designando
equívocos, elas promoveram uma revolução liderada pelos verbos, a classe que sempre
se destacava pela ação. Nesse motim, eis que surge uma questão de ordem. No
caso, de ordem existencial, encabeçada pelo pequeno, mas representativo, grupo dos
pronomes. Entretanto, quem conseguia dar conta de resolver o problema do EU, que já passava da casa
dos 7 bilhões de reivindicados? Mesmo com o apoio irrestrito do NÓS, parceiro único na primeira
pessoa, agraciado com o título de “o senhor da síntese”, o EU - em si mesmo e a nível dele próprio - se sentia injustiçado, dividido, despersonalizado. Nesse
momento, todas as palavras se olharam entre si, apavoradas. Uma desistência daquele
porte colocaria tudo a perder. Lidar com as questões externas tendo um problemão
de ordem interna como esse do tal de EU?
Enfim, as reuniões por categoria promoveram um rebuliço no dicionário, um
trança-trança, um mexe-mexe. Algumas páginas ficaram tão atoladas de palavras,
que elas precisaram se ajustar, até se espremerem em corpo, eliminarem os espaçamentos
entre linhas e entre letras. Enquanto outras páginas, totalmente vazias, arejadas, tornaram-se
propícias a áreas de lazer, as prediletas de certos substantivos que conseguiam escapulir do rebu, como amor, planta,
animal e criança, só alguns exemplos.
Porém, a despeito de
toda e qualquer oração, havia a galera insubordinada, formada pelas palavras profanas
que não estavam nem aí com o sentido sacro da conversa ou o rumo do movimento. Variáveis
e volúveis. Não eram palavras de palavra! Eram rebeldes provenientes de todas
as classes, e formavam um grupo à parte.
Entre brincadeiras e jogos
de palavras, elas assumiam qualquer papel. E assim foi que, tomando a dupla
central vazia do dicionário, resolveram promover um grande baile, uma dança de
salão. Aos poucos, os pares foram se formando sem preconceito de classe, gênero
ou compatibilidade fonética. Alguns casais eram muito afim entre si, outros nem
tanto. Apenas atraídas pelo desprendimento da diversão, juntaram-se
“comigo-ninguém-pode-pica-pau”, “vez-passada”, “havia-dado” “moça-fada”,
“abunda-pita”, “escudo-humano” “Itaipu-tinha”... E as parelhas debochadas iam deslizando pelas folhas
em branco, ao som de gritinhos, risos e aplausos. Um espetáculo singular nunca
antes escrito.
Tanta baderna acabou chamando a atenção do plenário organizado na página
vizinha, formado pela sisuda classe inflexível. Rapidamente, algumas
representantes dessas invariáveis vieram tomar satisfação. Dominadas pela rigidez,
atropelando-se em suas próprias palavras, elas partiram pra cima das que fugiam
à regra. De repente, como iluminuras, as beiradas da dupla de folhas em branco foram
sendo invadidas por dezenas delas querendo baixar normas e atos de exceção para
implantar a Nova Ordem Mundial da gramática!
Advérbios e preposições por todos os lados
faziam um cordão de isolamento para conter as folionas rebeldes, enquanto as
conjunções sempre atentas ao apelo das interjeições - Calma! Atenção! Socorro!
- arriscavam um meio de campo, uma negociação entre o senão e o talvez.
O cerco ia se fechando quando rapidamente, pelo
rodapé, sobe um exército de monossílabas em fila feito formigas cruzando as
páginas, acompanhado por dó ré mi fá sol lá si, cordão musical pra puxar a marchinha
de protesto. As tônicas cantavam em alvoroço enquanto as átonas batiam palmas
para marcar o contratempo com palavras de ordem em tom de malícia. Fazendo jus ao
tamanho, o recado foi curto e grosso: sol dó si mi ré lá!
Eram as palavrinhas ‘dando’ apoio aos palavrões.
No final do embate, 12 apóstrofes, entre
oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, foram responsabilizadas pelo paroxismo
e capturadas pelo caça-palavras.
Encontre, em qualquer sentido ou direção,
cada uma das presas no quadro de letras ao lado e, se quiser, escreva o nome delas
no campo dos comentários.
virginia finzetto
domingo, 15 de novembro de 2015
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