terça-feira, 24 de janeiro de 2017

TAPAS LITERÁRIOS

das sete artes e das letras
com licença, poética é gastronomia!
tão atenta às minúcias da linguagem
a produzir delícias em antologia 
gêneros e aromas exclusivos
em vasto repertório de versificação
versos de minuto a poemas da hora
criados em oficinas de alquimia 
há menus fartos e variados
produzidos pelo poeta mestre-cuca
ladeados de boa prosa, sátiras picantes
trocadilhos salteados, salpicados de métrica
a exprimir o que há dentro de nós
como espremer a essência da noz 
estrofes de mignon, rimas à pururuca
estrambótico com pitada romântica
papo de anjo, gulodice
os cabelos de Berenice 
sopa ou ensopado 
ao sugo, al dente, marinado
da pâtisserie à marmelada
tortas redondilhas, rondó de goiabada
quadra, dístico, terceto 
em salada, in brodo, ao pesto
hashis em haicais, barquetes de elegias 
ode em neve, espetinho épicos
soneto de legumes, éclogas com lichias
em declamados pratos líricos
rocambole de frases, epopeia de sabores 
que brotam da imaginação 
tudo no capricho da linguagem... 

iguarias autorais assinadas pelo chefe!

virginia finzetto

sábado, 19 de novembro de 2016

EFÊMERO

que a vida passa, eu sei,

mas escolhi uma que arruma

a minha casa inteira!




virginia finzetto

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

MIRAGEM

Sol febril, marcador em mecha
na linha do horizonte, termômetro azul
miragem que sobe e desce, finge não se pôr
nas águas que movem nossa barca
Rosa dos Ventos de Istambul
pássaros em flecha no alto
apontam Norte-Sul
embaixo, mais um complô
viagem que abarca
Leste-Oeste, eu e tu
é favorável o barlavento
leva nosso refúgio clandestino
sob o casco, raízes, frutos do mar
sobre nós, bússola, estrela Polar
é infindável o firmamento  
sortilégio desse destino


virginia finzetto
in Plural La Barca/junho 2106

terça-feira, 15 de novembro de 2016

NÃO ME SALTAM FÁCEIS

as palavras não me saltam fáceis. nas fôrmas, no forno, talvez elas passem do ponto. fora desandou, e o sono avança. o cão raivoso não late mais. sua boca de baba e espuma agora se ocupa do osso do assalto e seu dono dorme. as palavras não me saltam fáceis porque despertam aos poucos em nova forma. o forno é outro e o tempo não está na receita.

virginia finzetto

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

CRÔNICO

está no índice
remissivo
como doença
de apêndice
extraído
quando penso 

que curou
é recidiva
vem você 

como missiva
e se entrega
e eu
distraída


virginia finzetto

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O QUÊ?

o que investigar sobre a suspeita
o que suspeitar do que odeias
o que odiar em qualquer desfeita
que não o joio que semeias
o que pensar sobre o tempo
o que temporizar desses planos
o que planejar em cada evento
que não a ilusão dos enganos
o que discorrer sobre a morte
o que morrer em cada lance
o que lançar da tua sorte
que não a única chance
o que anotar sobre os estímulos
o que estimular em tua firmeza
o que afirmar entre esses túmulos
que não o mantra da pureza
o que levantar sobre a pauta
o que pautar para a escrita
o que escrever em tua minuta
que não o epitáfio dessa cripta
o que falar sobre os amores
o que amar em tua lembrança
o que lembrar a esses atores
que não a inocência da criança
o que dizer sobre a procura
o que procurar nessa espera
o que esperar de tanta jura
que não o amor de outra esfera




virginia finzetto

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

PAPELARIA

sacanagem
chega de enrolar

me deu um cano 
do diabo!
nesse compasso
nem dá beque
você não é seda 
que se afague

o que resta
são aparas
reciclagem
desse caso
viciado


virginia finzetto