resolvi aprender italiano, no duolingo. de uma simples vontade de honrar meus antepassados, o treco passou a ser uma disputa pra ganhar mais cristais e XPs e me classificar no ranking. com o tempo, para melhorar minha performance adicionei outros idiomas: comecei a intercalar espanhol, alemão, inglês, pulando de uma janela pra outra, trilhando estratégias para a melhor classificação. de meia hora de treino por dia, passei a virar noites. quando estava próxima de conquistar mais uma medalha, alguém resolveu me tirar do posto. aí apelei pro esperanto. foi quando eu comecei a enrolar a língua e a misturar tudo: io non hablo coffee and milk mi parolas la germanan... completamente enlouquecida, cedi aos apelos e fiz uma assinatura paga, para obter mais bônus. já não respeitava mais minhas horas de sono e mal trabalhava no escritório. qualquer intervalo era motivo pra eu ficar ali clicando , só pra não perder meu lugar na disputa. muitas vezes, meu chefe me pegou com o celular conectado na tomada e eu agachada pronunciando frases sem sentido. até que nesta semana fui demitida. agora estou desempregada, sem dinheiro para pagar o aplicativo e, pior, não sei falar bem porra de idioma nenhum. fim.
hoje estou um misto de cigarra e chapulín a estridular sob o sol do deserto de Sonora... ao meu lado Don Juan me convence que estou no quintal da casa da minha infância, enquanto ri da minha cara chapada de peiote. o silêncio é algo que escorre das nossas têmporas. se nenhum de nós abriu a boca,