terça-feira, 15 de novembro de 2016

NÃO ME SALTAM FÁCEIS

as palavras não me saltam fáceis. nas fôrmas, no forno, talvez elas passem do ponto. fora desandou, e o sono avança. o cão raivoso não late mais. sua boca de baba e espuma agora se ocupa do osso do assalto e seu dono dorme. as palavras não me saltam fáceis porque despertam aos poucos em nova forma. o forno é outro e o tempo não está na receita.

virginia finzetto

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

CRÔNICO

está no índice
remissivo
como doença
de apêndice
extraído
quando penso 

que curou
é recidiva
vem você 

como missiva
e se entrega
e eu
distraída


virginia finzetto

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O QUÊ?

o que investigar sobre a suspeita
o que suspeitar do que odeias
o que odiar em qualquer desfeita
que não o joio que semeias
o que pensar sobre o tempo
o que temporizar desses planos
o que planejar em cada evento
que não a ilusão dos enganos
o que discorrer sobre a morte
o que morrer em cada lance
o que lançar da tua sorte
que não a única chance
o que anotar sobre os estímulos
o que estimular em tua firmeza
o que afirmar entre esses túmulos
que não o mantra da pureza
o que levantar sobre a pauta
o que pautar para a escrita
o que escrever em tua minuta
que não o epitáfio dessa cripta
o que falar sobre os amores
o que amar em tua lembrança
o que lembrar a esses atores
que não a inocência da criança
o que dizer sobre a procura
o que procurar nessa espera
o que esperar de tanta jura
que não o amor de outra esfera




virginia finzetto

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

PAPELARIA

sacanagem
chega de enrolar

me deu um cano 
do diabo!
nesse compasso
nem dá beque
você não é seda 
que se afague

o que resta
são aparas
reciclagem
desse caso
viciado


virginia finzetto

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

TAPAS LITERAIS

das sete artes e das letras
com licença, poética é gastronomia!
tão atenta às minúcias da linguagem
a produzir delícias em antologia
gêneros e aromas exclusivos
em vasto repertório de versificação
versos de minuto a poemas da hora
criados em oficinas de alquimia
há menus fartos e variados
produzidos pelo poeta mestre-cuca
ladeados de boa prosa, sátiras picantes
trocadilhos salteados, salpicados de métrica
a exprimir o que há dentro de nós
como espremer a essência da noz
estrofes de mignon, rimas à pururuca
estrambótico com pitada romântica
papo de anjo, gulodice
os cabelos de Berenice
em sopa ou ensopado
ao sugo, al dente, marinado
da pâtisserie à marmelada
tortas redondilhas, rondó de goiabada
quadra, dístico, terceto
em salada, in brodo, ao pesto
hashis em haicais, barquetes de elegias
ode em neve, espetinhos épicos
soneto de legumes, éclogas com lichias
em declamados pratos líricos
rocambole de frases, epopeia de sabores
que brotam da imaginação
tudo no capricho da linguagem...
iguarias autorais assinadas pelo chefe!



virginia finzetto

domingo, 30 de outubro de 2016

GRAVIDADE


o universo é um parque de diversão

repleto de bacias de algodão doce

formando nuvens e galáxias

enroladas em palitos invisíveis

servidas a buracos negros

enquanto nós somos

só ideias

cromossomos

memórias grudadas 


no pó [de açúcar] estelar

fazendo as delícias

desse festival


[g]astronômico


virginia finzetto

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

JOGO

eu perdoo
porque jogamos
de igual para igual
em campo minado de joio
como opostos elos
do mesmo flagelo
a disputar tortas verdades
de frágeis egos
mas é a plateia a cega que
enquanto esconde suas vergonhas
prefere um a outro


virginia finzetto

in Desaforismos, lançamento em 2017