sábado, 6 de fevereiro de 2016
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
LEMBRANÇAS
Não era o relógio que media o tempo. Era a distância do olhar sobre aquele tapete esgarçado. Do alto da escadaria, ela identificava ilhas intactas de cores em esmirna e preenchia com a imaginação o desgastado dos espaços vazios da entretela. Com o passar dos anos, a acuidade visual não era a mesma. De perto, ninguém conseguia enxergar o propósito do desenho inicial, como se não tivesse qualquer conexão entre os esparsos blocos de lã tecida da tapeçaria. Apenas para ela havia ali um permanente retrato e uma história eterna.
virginia finzetto
sábado, 30 de janeiro de 2016
NÁUFRAGA DA REDE
Acordei na praia de uma ilha completamente deserta. Náufraga. Tudo acontece rapidamente. Avisto uma garrafa boiando em minha direção. Encalha na areia. Do gargalo enorme sai um celular. Há sinal, gps e crédito vitalício. Chamo seu número. "Cheguei...". Nenhuma resposta. Entro no Face, que fica a toda hora lembrando datas, enquanto meus cabelos me cobrem, minha roupa se desgasta, minhas unhas crescem, e eu mato a fome com algas.
virginia finzetto
DESPEDIDA
As finalizações eram difíceis para ela. Talvez porque a linha
e a agulha, que durante o trajeto abriram e preencheram tantos obstáculos,
agora nesse ponto, quase final, nessa especial proximidade espacial, já não
quisessem mais ser duas. E não havia distância para um passo nem um acabamento.
Seria um corte fatal. Ambas separadas e o nó só na garganta.
virginia finzetto
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