domingo, 3 de abril de 2016

DEMOCRACIA

nasce e acha que há um mundo neutro pela frente. descobre que o nome disso é esperança. cresce vendo os pais lutarem pela sobrevivência, enquanto passam muita necessidade. descobre que o nome disso é meritocracia. aprende o ensino da escola regular regida por parâmetros sem alma. descobre que o nome disso é educação. pratica a mais pura rebeldia que brota de seu coração. descobre que o nome disso é desajuste social. cai no vício de todo tipo de droga lícita e ilícita. descobre que o nome disso é contravenção. panfleta o mundo com questionamentos sobre todas as desigualdades. descobre que o nome disso é poder, de autoria patenteada. apanha por conquistar direitos que diminuam as diferenças sociais em defesa das minorias. descobre que o nome disso é a violência da polícia mandada. perde a esperança e ganha consciência. descobre que o nome disso é democracia. 

virginia finzetto

sexta-feira, 1 de abril de 2016

GALÁCTICO


PRIMEIRO DE ABRIL

às vezes eu acordo e me vem aquele momento de total êxtase por ter descoberto a fórmula da felicidade. e segundos depois, tudo me escapa, e os números e as letras iniciais começam a mudar de forma e a ganhar outra configuração e, quando eu me dou conta, a magia me fugiu e restou um murmúrio, um franzir do cenho, seguido de inúmeras ginásticas faciais para acompanhar a torrente elétrica do pensamento tentando capturar a explicação para o nada óbvio. voltas e voltas das ideias com o objetivo de escapar ao medíocre, do absolutamente confuso e irracional desejo de apreensão do sagrado, da mais pura e inocente aproximação do núcleo... do... do... do... tsc... e o resto do dia fica assim, totalmente profano. sigo comendo paçoquinha e esperando aquele convite que não chega.

virginia finzetto

domingo, 27 de março de 2016

CURA

eu era pequena, menos de 1 metro e menos de 7 anos. cabelo liso e curto. conversava com as plantas. vivia na rua de terra, brincando com os moleques. pernas e braços machucados dos tombos da bicicleta emprestada. e um dia eu amassei as míni flores da planta rasteira e daninha que brotava na calçada e coloquei o caldo na impinge do joelho. e sei que proferi algumas palavras, e aquilo curou. e me lembro que minha avó curou as outras coceiras apenas com amor e gestos delicados de vai e vem sobre as feridas usando uma folhinha de oliveira do quintal embebida em azeite. e hoje eu gostaria de resgatar essa inocência para curar todos os homens que querem tudo apenas por não terem nada a dar além do medo. e aproveitar e proferir uma meia dúzia de palavrões mágicos para exorcizar toda essa sujeira. 

virginia finzetto