como dominó
cadeia para todos
palavras são como pássaros tentando pousar. pressentem sobressaltos e debandam ao menor susto. há dias, iscas não funcionam. palavras são exigentes no trato, não vivem de migalhas.
querido antônio, não fostes santo à toa. que idiotice a minha ficar te amolando por longos 12 anos. essa coisa de virar tua imagem de ponta-cabeça com objetivos tão falsos, chamar de simpatia a uma tortura dessas, atribuir à tua graça meu vexame de não ter sequer empatia com uma causa já sabida desde sempre como capricho no mau sentido, como uma birra. sabe, querido, ontem resolvi desenterrar todos os bonecos de gesso à tua imagem e algumas semelhanças. é que a cada ano eu adquiria um deles em lugares diferentes. hoje, com orgulho, exibo minha coleção sem ter repetido um sequer. penso que ela deva valer uma nota no mercado livre. o modelo 2018 nem cheguei a virá-lo. coloquei-o sobre a mesa e, juntos, tomamos esta decisão: 12 apóstolos, 12 meses, 12 anos, 12 signos, 12 casas do zodíaco... finalmente, percorri a roda, um ciclo inteiro, e sobrevivi feliz, sem me casar. obrigada, isso sim é que é milagre!
virginia finzetto
lembro de quando li a primeira vez a palavra Confiança. eu tinha uns 5 anos e ela estava escrita como marca naquelas furgonetas de cor azul-marinho que abasteciam as vitrines das mercearias do bairro. tinha pé-de-moleque, maria-mole, suspiro e todas delícias meladas em lindos formatos, para atrair e viciar a criançada inocente trapaceando a ingenuidade dos adultos. atrelar certas qualidades como fé, credibilidade, esperança, firmeza, fidúcia, segurança e por aí vai a marcas, nesse caso, me induziu a comer quilos de veneno acreditando fazer bem à minha saúde. a tal da publicidade que serve ao capitalista, a tal da propaganda enganosa. mas quem seria honesto o suficiente para dar o nome de Cárie & Diabetes a sua empresa fabricante de doces, né? perdi a confiança!
virginia finzetto
virginia finzetto