em tardes mornas, lembro de mim na calçada ouvindo os barulhinhos da noite chegando e a contumaz merencória que descia para me abraçar. eu era criança, e tudo o que sentia era uma profunda e inexplicável saudade de casa. mas eu nunca havia estado em outra casa... e esse aperto solitário durava o infinito do trajeto dos ponteiros do relógio a percorrer exatos trinta minutos, que coincidia com a ave-maria que minha avó recitava religiosamente todos os dias. eu entrava para ouvi-la murmurar e, só assim, no recato da prece de seu colo, toda minha ausência podia ser dissolvida.
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