Às vezes me pego esperando por algo que precisa acontecer para que outro acontecimento aconteça. É como se houvesse a necessidade tácita de um antes nos bastidores dos atos. Uma antecâmara de cada cena manipulando-as como marionetes para a plateia sempre adormecida.
Seguir o ritmo de um marcador de tempo, como no compasso de um marca-passo, no número de giros da corda mecânica da caixinha de música, no intervalo de cada clique do interruptor de luz… Nos instantes em que estamos ausentes, onde estamos?
Seria esse gap proposital para que o ser desperto se dê conta do significado da pura espontaneidade? Esta que é a naturalmente responsável pela condução da vida de toda a criação que não a humanidade.
No momento em que o avião inicia sua decolagem, não resta outra opção além da minha entrega para que vingue o voo. Para o curso planejado não pode haver dúvidas. Qualquer vacilo, gagueira, espirro pode virar o fracasso do espetáculo.
“— Pode-se continuar morrendo pela eternidade…”
Pode-se continuar vivendo na vacuidade.
Pode-se perpetuar alheio a cada golfada de ar a preencher os pulmões.
Pode-se fingir atenção em cada distração.
Pode-se permanecer disperso em qualquer concentração.
Preso a algum ponto da esfera, percebe-se singularmente esse intervalo feito de números, calendários, metas, morais, regras, crenças convencido de que se pertence a algum diâmetro ou raio em particular.
Viver é um verbo que só pode ter sido inventado por algum prestidigitador, nome difícil até de pronunciar. Morre-se desde que se nasce, perpetuamente. Só.
virginia finzetto
* Nos últimos momentos da vida, eternamente.
publicado na COLUNA PLURAL (scenariumplural.wordpress.com) em 9/11/2017
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