na parede de madeira da sala de chão batido, o pavio ressecado do candeeiro pendurado sinalizava o tempo de abandono ali sem uso por falta de fluido. de novo, acenderia a mesma grossa vela, que deixara em cima da mesinha de canto, já em toco, rodeada de seus endurecidos choros anteriores, e se sentaria ao lado, na velha cadeira de assento de palha. restaria pouco lume para lamentar a escuridão, mas o suficiente para ela terminar de ler a missiva de dez laudas, frente e verso, que recebera de Inácio. qualquer pessoa teria, apressadamente, à luz do dia, liquidado o assunto. menos ela, que nunca deixara de ouvir os causos dele com a mesma atenção que lhe dedicara sua vida inteira. capaz de prever em suas linhas quando um segredo estava prestes a se revelar, ela mansamente dobrava a carta e afagava-a contra o peito, depois guardava-a para o dia seguinte, como quem tapa provisoriamente a fissura de uma represa para evitar o desperdício do precioso líquido, adiando o final do prazer que aquela leitura lhe proporcionava...
virginia finzetto
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