Na sala, Nicinha tricotava quando, de um pulo, a gata fez a bola de lã rolar de sua mão até a porta da saída. Ali, sua filha se agachou para pegá-lo.
Enquanto enrolava o fio ao redor da meada, Alice lembrou do sonho de viver com o marido em outro país. Às vésperas de partirem, frustrados pela pandemia, sem casa e sem emprego, abortaram os planos e foram morar com sua mãe.
− Estou atrasada! – despediu-se, entregando-lhe o novelo.
Lá fora, após salvar vidas primeiro, o mundo atordoado e desperto do coma induzido tenta ressuscitar o velho modelo da economia.
A vacina que não virá tão cedo é mais uma questão para a ciência resolver.
Pela sobrevivência, muitos viram na crise a chance de quebrar paradigmas, de mudar de cidade e de vida.
Alice, não, foi tentar uma recolocação no escasso mercado de trabalho.
O futuro a assusta, mas é um alívio que o importante para ela estava preservado.
Aprendeu a aceitar imprevistos e a fracionar seus medos, vivendo um dia de cada vez.
virginia finzetto
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